Os filósofos têm tentado abalar todas as nossas certezas e mostrar que do mundo conhecemos apenas aparências. Possuiremos sempre, porém, duas grandes certezas, que nada poderia destruir: o prazer e a dor. Toda a nossa actividade deriva delas. As recompensas sociais, os paraísos e os infernos criados pelos códigos religiosos ou civis baseiam-se na acção dessas certezas, cuja evidente realidade não pode ser contestada.

Porquê? Porque o presente ignora o futuro e no presente a Natureza condena-nos a procurar o prazer e a evitar a dor.
O operário, curvado sob o peso do trabalho, a irmã de caridade, a quem não repugna nenhuma chaga, o missionário torturado pelos selvagens, o sábio que procura a solução de um problema, o obscuro micróbio que se agita no fundo de uma gota d'água, todos obedecem aos mesmos estimulantes de atividade: o atractivo do prazer, o receio da dor.
Nenhuma atividade tem outro móbil. Não poderíamos mesmo imaginar móbis diferentes desses. Só os nomes podem variar. Prazeres estéticos, guerreiros, religiosos, sexuais, etc., são formas diversas do mesmo aspecto fisiológico A actividade dos seres se dissiparia se desaparecessem as duas certezas que são os seus grandes móbis: o prazer e a dor.