domingo, 1 de março de 2009

Não Sobra Tempo para Ter Bom Gosto...

Os interesses, os negócios, a loja, a repartição, a família, a profissão liberal, os prazeres não deixam um momento para as exigências de uma iniciação artística: - e numa cidade de dois milhões de almas, como Paris, há por fim apenas meia dúzia de almas que possam sentir com verdade e profundidade a beleza ou a grandeza de uma obra, e que diante de um quadro de Velásquez e de um quadro de Bonguereau, saibam qual pertence à Arte e qual pertence ao Artifício. Por isso a oleografia triunfa, e Ohnet e outros tiram a cem mil exemplares e as comédias mais desprezivelmente idiotas congregam as multidões. E não é culpa da multidão. Ela pode dizer, como o amanuense a Voltaire: «Não me sobra tempo para ter bom gosto».

Eça de Queirós, in 'Cartas de Inglaterra'

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