
Longe disso, procura-se a glória e cai-se no charlatanismo, na procura do efeito, e antes de mais nada no utilitarismo... visto que também se quer, ao mesmo tempo, ser rico. Na arte acontece o mesmo que na ciência: idêntica ânsia do efeito, obtido por um refinamento qualquer. As ideias simples e claras, generosas e sãs acabam por resultar antiquadas; precisa-se de qualquer coisa mais proibitivo, menos são; necessita-se do artifício das paixões. Pouco a pouco vão-se perdendo a medida e a harmonia, caindo-se, em compensação, no falseamento dos sentimentos e paixões, na chamada «diferenciação» dos sentimentos, que, na realidade, mais não é que uma adulteração. Veja até que ponto a arte degenera com uma longa paz. Se não houvesse guerra no mundo já teria muito simplesmente sucumbido. Todas as ideias boas da arte, as suas melhores ideias, resultam da guerra, da luta.
Fiodor Dostoievski, in 'Diário de um Escritor (Conversa de um amigo de Fiodor)'
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