Para a vasta massa humana, em todos os tempos, pagã, budista, cristã, maometana, selvagem ou culta, a Religião terá sempre por fim, na sua essência, a súplica dos favores divinos e o afastamento da cólera divina; e, como instrumentação material para realizar estes objectos, o templo, o padre, o altar, os ofícios, a vestimenta, a imagem. Pergunte a qualquer mediano homem saído da turba, que não seja um filósofo, ou um moralista, ou um místico, o que é Religião. O inglês dirá:—«É ir ao serviço ao domingo, bem vestido, cantar hinos». O hindu dirá:—«É fazer poojah todos os dias e dar o tributo ao Mahadeo». O africano dirá:—«É oferecer ao Mulungu, a sua ração de farinha e óleo». O minhoto dirá: —«É ouvir missa, rezar as contas, jejuar a sexta-feira, comungar pela Páscoa». E todos terão razão, grandemente! Porque o seu objecto, como seres religiosos, está todo em comunicar com Deus, e esses são os meios de comunicação que os seus respectivos estados de civilização e as respectivas liturgias que deles sairam, lhes fornecem.
Eça de Queirós, in 'A Correspondência de Fradique Mendes'
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