
Porquê confundir coisas tão diversas ou mesmo opostas? A virtude é algo elevado, excelso e nobre, invicto e infatigável; o prazer é baixo, servil, fraco e caduco, o seu lugar são os prostíbulos e as tabernas. A virtude, encontrá-la-ás no templo, no fórum, na cúria, resistindo como um muro, poeirenta, de pele tisnada e mãos calosas; o prazer geralmente esconde-se e procura as trevas, circulando pelos banhos, pelas termas e pelos locais que receiam a polícia: mole, fraco, ensopado em vinho e em perfumes, pálido ou todo pintado, entufado de unguentos como um cadáver. O sumo bem é imortal, desconhece a morte e não tem saciedade nem arrependimento: com efeito, a mente recta nunca muda, nunca tem ódio por si própria, nem se desvia da vida melhor; o prazer, por outro lado, quando alcança o seu ponto mais alto, extingue-se; o seu terreno é limitado e, por isso, rapidamente o esgota; entedia-se e desfalece após o primeiro ímpeto. Não pode haver certeza naquilo que, por natureza, está em movimento: por isso, nada pode haver de substancial naquilo que rapidamente vem e vai, perecendo com o seu próprio usufruto; de facto, o prazer conduz ao ponto em que acaba e tem o seu fim à vista logo a partir do seu começo.
Séneca, in 'Da Vida Feliz'
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