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sábado, 20 de agosto de 2011

A Verdadeira Virtude...

Não se pode pensar em virtude sem se pensar num estado e num impulso contrários aos de virtude e num persistente esforço da vontade. Para me desenhar um homem virtuoso tenho que dar relevo principal ao que nele é voluntário; tenho de, talvez em esquema exagerado, lhe pôr acima de tudo o que é modelar e conter. Pela origem e pelo significado não posso deixar de a ligar às fortes resoluções e à coragem civil. E um contínuo querer e uma contínua vigilância, uma batalha perpétua dada aos elementos que, entendendo, classifiquei como maus; requer as nítidas visões e as almas destemidas. Por isso não me prende o menino virtuoso; a bondade só é nele o estado natural; antes o quero bravio e combativo e com sua ponta de maldade; assim me dá a certeza de que o terei mais tarde, quando a vontade se afirmar e a reflexão distinguir os caminhos, com material a destruir na luta heróica e a energia suficiente para nela se empenhar. O que não chora, nem parte, nem esbraveja, nem resiste aos conselhos há-de formar depois nas massas submissas; muitas vezes me há-de parecer que a sua virtude consiste numa falta de habilidade para urdir o mal, numa falta de coragem para o praticar; e, na verdade, não posso ter grande respeito pelas amibas que se sobrevivem.
Só os sacristães são levados, por índole e ofício, a venerar todos os santos, sem pôr em mais alto lugar os que encheram sua vida de esquinas e no dobrar de cada uma sofreram agonias e suaram de angústia; mas, para nós, foram mais longe os que mais se feriram nos espinhos de uma remissa natureza; se a venceram merecem estar no céu; se não venceram, o próprio esforço lho devia merecer; no entanto já o inferno é uma forma de glória; para os outros seria bom que se criasse um novo recinto de imortalidade: e só o vejo estabelecido no lodo espapaçado de um fundo tranquilo, sem pregas de correntes nem restos de naufrágios; exactamente um cemitério de medusas. Para o que é bom por ter nascido bom e a única virtude consistiria em ser mau; aqui se mostrariam originalidade e coragem, mérito, portanto; porque ser mau por ter nascido mau só lhe deveria dar, como aos do lado contrário, o direito ao eterno silêncio. Por aqui se compreende que as vidas dos Sorel tenham sempre ressonância nas almas Stendhal; e também a sensibilidade, a delicadeza, todo o fundo de boas qualidades de certos grandes criminosos. Sei bem os perigos que tal doutrina pode ter transportada ao social e sei também a maneira de pôr de lado a objecção, alargando o conceito de virtude, dando-o como o desejo de superar e não como o desejo de combater; mas de propósito fiquei no que a virtude tem de luta entre a natureza e a vontade.


Agostinho da Silva, in 'Considerações'

domingo, 27 de março de 2011

Prazer com Virtude...

Que dizer do facto de tanto os homens bons como os maus terem prazer, e de os homens infames terem tanto gosto em cometer actos vergonhosos como os homens honestos têm nas suas acções excelentes? É por isso que os antigos prescreveram que se procurasse a vida melhor, não a mais agradável, de forma a que o prazer fosse, não o guia, mas um companheiro da vontade recta e boa. Na verdade, a natureza deve ser o nosso guia: a razão observa-a e consulta-a. Por isso, viver feliz é o mesmo que viver de acordo com a natureza. Passo a explicar o que quer isto dizer: se conservarmos os nossos dons corporais e as nossas aptidões naturais com diligência, mas também com impavidez, tomando-os como bens efémeros e fugazes; se não nos tornarmos servos deles, nem nos submetermos a coisas exteriores; se as coisas que são circunstanciais e agradáveis ao corpo forem para nós como auxiliares e tropas ligeiras num castro (que obedecem, não comandam); nesta medida, todas estas coisas serão úteis à mente. Não se deixe o homem corromper pelas coisas externas e inalcançáveis, e admire-se apenas a si próprio, confiando no seu ânimo e mantendo-se preparado para tudo, como um artesão da vida; não exista nela a confiança sem o saber, e o saber não exista sem a constância: sejam as suas decisões peremptórias e os seus decretos sem rasuras. Depreende-se, sem que eu tenha de o referir, que este homem será equilibrado, ordenado e magnífico nas suas acções benevolentes. Procure a razão o motivo das exaltações dos sentidos e, tomando-as como ponto de partida (uma vez que não tem outra base onde possa apoiar o seu esforço ou a partir da qual possa tomar balanço para o verdadeiro), regresse a si mesma. O mundo que tudo abraça, o Deus que governa o universo tende igualmente a exteriorizar-se, regressando, porém, de todo o lado, a ele próprio. Faça o mesmo a nossa mente: se, tendo seguido os seus sentidos, ela se estendeu através deles para as coisas exteriores, seja, ao mesmo tempo, senhora deles e de si. Deste modo, conseguirá harmonizar a sua força e as suas faculdades, daí nascendo uma razão que confia em si mesma, que não permanece na indecisão e que não hesita em relação às suas opiniões, concepções e convicções, a qual, quando tenha conseguido congregar as suas partes e, por assim dizer, pô-las em concórdia, alcançou o sumo bem. De facto, nada de perverso ou de enganoso subsistirá, não haverá nada em que tropece ou que a derrube; tudo o que fará será por sua vontade, sem imprevistos; a sua actividade mostrar-se-á boa e será desempenhada com facilidade, com competência e sem tergiversações, pois a preguiça e a hesitação são sinais de conflito e de inconstância. Deste modo, poderás concluir, de forma audaz, que o sumo bem é a concórdia da alma; de facto, as virtudes deverão estar onde estiver o consenso e a unidade; os vícios, onde estiverem as dissenções.

Séneca, in 'Da Vida Feliz'

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A Verdadeira Virtude...

Não se pode pensar em virtude sem se pensar num estado e num impulso contrários aos de virtude e num persistente esforço da vontade. Para me desenhar um homem virtuoso tenho que dar relevo principal ao que nele é voluntário; tenho de, talvez em esquema exagerado, lhe pôr acima de tudo o que é modelar e conter. Pela origem e pelo significado não posso deixar de a ligar às fortes resoluções e à coragem civil. E um contínuo querer e uma contínua vigilância, uma batalha perpétua dada aos elementos que, entendendo, classifiquei como maus; requer as nítidas visões e as almas destemidas. Por isso não me prende o menino virtuoso; a bondade só é nele o estado natural; antes o quero bravio e combativo e com sua ponta de maldade; assim me dá a certeza de que o terei mais tarde, quando a vontade se afirmar e a reflexão distinguir os caminhos, com material a destruir na luta heróica e a energia suficiente para nela se empenhar. O que não chora, nem parte, nem esbraveja, nem resiste aos conselhos há-de formar depois nas massas submissas; muitas vezes me há-de parecer que a sua virtude consiste numa falta de habilidade para urdir o mal, numa falta de coragem para o praticar; e, na verdade, não posso ter grande respeito pelas amibas que se sobrevivem.
Só os sacristães são levados, por índole e ofício, a venerar todos os santos, sem pôr em mais alto lugar os que encheram sua vida de esquinas e no dobrar de cada uma sofreram agonias e suaram de angústia; mas, para nós, foram mais longe os que mais se feriram nos espinhos de uma remissa natureza; se a venceram merecem estar no céu; se não venceram, o próprio esforço lho devia merecer; no entanto já o inferno é uma forma de glória; para os outros seria bom que se criasse um novo recinto de imortalidade: e só o vejo estabelecido no lodo espapaçado de um fundo tranquilo, sem pregas de correntes nem restos de naufrágios; exactamente um cemitério de medusas. Para o que é bom por ter nascido bom e a única virtude consistiria em ser mau; aqui se mostrariam originalidade e coragem, mérito, portanto; porque ser mau por ter nascido mau só lhe deveria dar, como aos do lado contrário, o direito ao eterno silêncio. Por aqui se compreende que as vidas dos Sorel tenham sempre ressonância nas almas Stendhal; e também a sensibilidade, a delicadeza, todo o fundo de boas qualidades de certos grandes criminosos. Sei bem os perigos que tal doutrina pode ter transportada ao social e sei também a maneira de pôr de lado a objecção, alargando o conceito de virtude, dando-o como o desejo de superar e não como o desejo de combater; mas de propósito fiquei no que a virtude tem de luta entre a natureza e a vontade.

Agostinho da Silva, in 'Considerações'

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Felicidade e Virtude...

Como, ao que parece, há muitos fins e podemos buscar alguns em vista de outros: por exemplo, a riqueza, a música, a arte da flauta e, em geral, todos aqueles fins que podem denominar-se instrumentos, é evidente que nenhum desses fins é perfeito e definitivo por si mesmo. Mas o sumo bem deve ser coisa perfeita e definitiva. Por conseguinte, se existe uma só e única coisa que seja definitiva e perfeita, ela é precisamente o bem que procuramos; e se há muitas coisas deste género, a mais definitiva entre elas será o bem. Mas, em nosso entender, o bem que apenas deve buscar-se por si mesmo é mais definitivo que aquele que se procura em vista de outro bem; e o bem que não deve buscar-se nunca com vista noutro bem é mais definitivo que os bens que se buscam ao mesmo tempo por si mesmos e por causa desse bem superior; numa palavra, o perfeito, o definitivo, o completo, é o que é eternamente apetecível em si, e que nunca o é em vista de um objecto distinto dele. Eis aí precisamente o carácter que parece ter a felicidade; buscamo-la por ela e só por ela, e nunca com mira em outra coisa. Pelo contrário, quando buscamos as honras, o prazer, a ciência, a virtude, sob qualquer forma que seja, desejamos, indubitavelmente, todas essas vantagens por si mesmas; pois que, independentemente de toda outra consequência, desejaríamos cada uma delas; todavia, desejamo-las também com mira na felicidade, porque cremos que todas essas diversas vantagens no-la podem assegurar; enquanto ninguém pode desejar a felicidade, nem com mira nestas vantagens, nem, de maneira geral, com vista em algo, seja o que for, distinto da felicidade mesma.
(...) Todavia, ainda convindo connosco em que a felicidade é, sem contradita, o maior dos bens, o bem supremo, talvez haja quem deseje conhecer melhor a sua natureza. O meio mais seguro de alcançar esta completa noção é saber qual é a obra própria do homem. (...) Viver é uma função comum ao homem e às plantas, e aqui apenas se busca o que é exclusivamente especial ao homem; é por isso necessário pôr de lado a vida de nutrição e de desenvolvimento. Em seguida vem a vida da sensibilidade, mas esta, por sua vez, mostra-se igualmente comum a todos os seres - o cavalo, o boi, e em geral a todos os animais, tal como ao homem. Resta, portanto, a vida activa do ser dotado de razão. Mas neste ser deve distinguir-se a parte que não possui directamente a razão e se serve dela para pensar. Além disso, como esta mesma faculdade da razão se pode compreender num duplo sentido, devemos não esquecer que se trata aqui, sobretudo, da faculdade em acção, a qual merece mais particularmente o nome que a ambas convém. E assim o próprio do homem será o acto da alma em conformidade com a razão, ou, pelo menos, o acto da alma que não pode realizar-se sem a razão. (...) Mas o bem, a perfeição para cada coisa, varia segundo a virtude especial dessa coisa. Por conseguinte, o bem próprio do homem é a actividade da alma dirigida pela virtude; e, como há muitas virtudes, será a actividade dirigida pela mais alta e a mais perfeita de todas. Acrescente-se também que estas condições devem ser realizadas durante uma vida inteira e completa, porque uma só andorinha não faz a Primavera, nem um só dia formoso; e não pode tão-pouco dizer-se que um só dia de felicidade, nem mesmo uma temporada, bastam para fazer um homem ditoso e afortunado.
Aristóteles, in'Ética a Nicómaco'

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Fim dos Anacletos...

Acabei hoje a leitura e fui das obras mais surpreendentes que já li. Talvez por não ter expectativas elevadas no ínicio consideirei o meu tempo por bem empregue.

Aja antes de falar e, portanto, fale de acordo com os seus actos.

É preciso que o discípulo da sabedoria tenha o coração grande e corajoso. O fardo é pesado e a viagem longa.

Não são as ervas más que afogam a boa semente, e sim a negligência do lavrador.

Ser ofendido não tem importância nenhuma, a não ser que nos continuemos a lembrar disso.

A experiência é uma lanterna dependurada nas costas que apenas ilumina o caminho já percorrido.

Aquele que não prevê as coisas longínquas expõe-se a desgraças próximas.

Entre amigos as frequentes censuras afastam a amizade.

Mil dias não bastam para aprender o bem; mas para aprender o mal, uma hora é demais.

Aprende a viver como deves, e saberás morrer bem.

Exige muito de ti e espera pouco dos outros. Assim, evitarás muitos aborrecimentos.

Confúcio

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Anacletos...

Cada vez mais interessante a cada pagina que passa...

O silêncio é um amigo que nunca trai.

Qual seria a sua idade se você não soubesse quantos anos você tem?

Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida.

Quando vires um homem bom, tenta imitá-lo; quando vires um homem mau, examina-te a ti mesmo.

Não corrigir nossas faltas é o mesmo que cometer novos erros.

A humildade é a única base sólida de todas as virtudes.

O homem de palavra fácil e personalidade agradável raras vezes é homem de bem.

Se queres prever o futuro, estuda o passado.

Eu não procuro saber as respostas, procuro compreender as perguntas.

A nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos, mas sim em levantarmo-nos sempre depois de cada queda.

Coloque a lealdade e a confiança acima de qaulquer coisa; não te alies aos moralmente inferiores; não receies corrigir os teus erros.

A preguiça caminha tão devagar, que a pobreza não tem dificuldade em a alcançar.

Confúcio

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Anacletos...

Leituras de uma obra que a cada pagina se revela mais interessante.

Não há coisa mais fria do que o conselho cuja aplicação seja impossível.

Para quê preocuparmo-nos com a morte? A vida tem tantos problemas que temos de resolver primeiro.

Aprender sem pensar é tempo perdido.

O homem que é firme, paciente, simples, natural e tranquilo está perto da virtude.

O mestre disse: Quem se modera, raramente se perde.

Pensar sem aprender torna-nos caprichosos, e aprender sem pensar é um desastre.

Quem de manhã compreendeu os ensinamentos da sabedoria, à noite pode morrer contente.

Se não sabes, aprende; se já sabes, ensina.
Confúcio

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Confúcio...

Adquirí recentemente os Anacletos de Confúcio.
Serão os próximos posts constituídos por alguns dos seus pensamentos mais eloquentes..

Aqui fica uma breve biografia...

Confúcio é a forma latinizada de Kongfuzi (ou Kung-fu-tzé). Pouco se sabe de facto sobre sua vida. O pensador nasceu no antigo principado de Lu (atual Qufu), descendente do clã dos Kong. Com a morte do pai, Confúcio precisou de trabalhar para ajudar no sustento da casa. Teve, no entanto, uma educação refinada. Casou-se aos 19 anos e, ainda jovem, entrou para a administração do principado, atingindo, com o passar do tempo, o cargo de ministro da justiça. Mais tarde, desiludido com a política, deixou o cargo e a cidade. Confúcio começou a divulgar seus ensinamentos com a idade de 50 anos. Empreendeu longas viagens. Viajando e conversando, atraiu muitos discípulos, impressionados com sua sabedoria e a elevação de seu caráter. Suas idéias expandiram-se pelo país e por toda a China. A partir da dinastia Han (206 a.C. - 220 d.C.), diversos governantes passaram a se inspirar nas idéias de Confúcio, para a organização da sociedade. A doutrina de Confúcio, o confucionismo, está reunida num volume intitulado "Analectos", uma coletânea de aforismos que ele teria composto ou reescrito, a partir de textos remotos da civilização chinesa. Após longa peregrinação, com cerca de 70 anos, Confúcio retornou a sua terra natal. Três anos depois, faleceu. O Templo de Confúcio, na cidade de Qufu, na atual província de Shandong, tornou-se, através dos séculos, local de veneração, apesar de o filósofo ter sido condenado pelo Partido Comunista, depois da Revolulão Chinesa. A sua filosofia ainda exerce imensa influência sobre o pensamento e a mentalidade chinesa nos dias de hoje.