Não há maior injúria, que o desprezo; e é porque o desprezo todo se dirige, e ofende à vaidade; por isso a perda da honra aflige mais que a da fortuna; não porque esta deixe de ter um objecto mais certo, e mais visível, mas porque aquela toda se compõe de vaidade, que é em nós a parte mais sensível. Poucas vezes se expõe a honra por amor da vida, e quási sempre se sacrifica a vida por amor da honra. Com a honra, que adquire, se consola o que perde a vida; porém o que perde a honra, não lhe serve de alívio a vida, que conserva: como se os homens mais nascessem para terem honra, que para terem vida, ou fossem formados menos para existirem no ser, que para durarem na vaidade. Justo fora, que amassem com excesso a honra, se esta não fosse quási sempre um desvario, que se sustenta da estimação dos homens, e só vive da opinião deles.
Matias Aires, Filósofo, 1705-1764, in 'Reflexões Sobre a Vaidade dos Homens e Carta Sobre a Fortuna'
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